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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

No programa de numero 2.000, o Globo Rural visita Lago do Junco e reencontra quebradeiras de babaçu de 15 anos atrás.

Na época em que o programa visitou Lago do Junco-MA, a vida da comunidade melhorava por conta de uma cooperativa. Saiba como está Laisla, menina que a reportagem viu nascer.



O Globo já tinha documentado a rotina das quebradeiras de coco do Maranhão há 15 anos. Naquela época, o programa mostrou que, graças à organização e o trabalho em cooperativa, a vida na região do município de Lago do Junco já estava melhorando.

As quebradeiras de coco de lá estão entre as pioneiras na luta pela valorização da atividade, um trabalho que começaram há mais de 30 anos. Um dos pontos de atuação é o ensino do artesanato feito com o babaçu.

Maria Alaídes de Sousa, quebradeira de coco, na primeira visita era vereadora. Hoje saiu da política, mas continua liderando. Ananda da Silva, que aos 9 anos queria ser modelo, hoje é professora. Maria das Dores Vieira Lima tinha abandonado a escola, agora tem Ensino Médio Completo.

"A gente tá aqui e tem hora que diz: ah, a gente quase não conseguiu nada. Quando você olha uma reportagem de 15 atrás, aí você vem a perceber a mudança de vida no nosso meio. E essa mudança de vida foi para melhor", diz Maria das Dores. "Quase todas as pessoas que estão na reportagem, têm filhos na faculdade, alguns no doutorado. Então a gente só tem a ver avaliar como a gente está bem", completa.

Numa volta pela comunidade de Ludovico já se vê mudança. Casas construídas, como são chamadas por lá, tomaram o lugar das antigas moradias de taipa, cobertas pela palha da palmeira.

A casa da Maria Alaídes é um exemplo: de chão batido, não tinha banheiro. Agora tem suíte.

Algumas casas da vila ainda estão nas condições antigas. Outras já mexeram até na segunda ou terceira reforma.

Outra conquista foi a escola estadual onde trabalha a Ananda. A moça bonita que sonhava em ser modelo quando criança, agora dá aulas de história e filosofia.

"Eu gosto do trabalho que eu faço, tenho prazer de trabalhar e estou me formando para isso."

Ananda teve outras conquistas: uma casa confortável, dois filhos, um marido trabalhador que durante quatro meses do ano se dedica ao beneficiamento do algodão, em Mato Grosso. A renda do casal dá aos meninos uma vida diferente da que Ananda teve.

"Na minha época nós tínhamos que ajudar nossos pais, quebrar coco, ir para a roça. Hoje os pais só botam as crianças para trabalhar se quiserem", afirma.

Mas, uma vez quebradeira, Ananda ainda quebra coco para complementar a renda. "Vou carregar isso até o fim dos dias."

Cooperativa ainda dá frutos

O passado dá mais sabor às conquistas. A cooperativa das quebradeiras continua prosperando. Toda a produção de amêndoas vai para um mesmo local. A quebradeira escolhe: pagamento em dinheiro, ou em produtos na cantina.

A cantina é um mercado próprio da cooperativa. São 1,8 mil produtos, incluindo pequenos "luxos" como shampoo, creme para a pele, iogurte, bolacha e chocolate. Coisas que são normais para muita gente, mas que para o pessoal da região não existiam nem em sonho.

Antes, a renda só dava para comprar itens básicos, como sabão, café, querosene. O quilo da amêndoa hoje vale R$ 2,50. E já foi menos, quando as quebradeiras vendiam para um atravessador.

Os avanços atraíram mais quebradeiras. Atualmente, 36 comunidades mandam suas amêndoas para a fábrica de óleo da Coppalj, a Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco. Nestes 15 anos, a quantidade de amêndoas processadas saltou de 90 para 500 toneladas.

O óleo lá processado vai para o mercado regional, para o Pará e São Paulo. E também para fora: Inglaterra, Itália, Estados Unidos  e recebem em euro.

O óleo sai do Brasil Bruto e é refinado nos Estados Unidos. Um custo que vai desaparecer, porque já está em construção uma unidade própria para o refino.

Parte do óleo vai para a fábrica de sabonetes mantida pelas quebradeiras. Joana Alves embalava sabonetes há 15 anos. Hoje, continua embalando. Mas sai rumo ao hospital para visitar a neta que acaba de nascer.

"Eu não vou dizer que ela não vai quebrar coco. A realidade nossa é essa", afirma a mãe da criança.

"A pessoa que trabalha empregada não é livre porque se falhar já vai ser jogada fora. Eu acho que não é uma vida livre. No coco, é", diz Joana.

De volta às raízes

Mulher da zona rural, da região dos cocais, até pouco tempo tinha destino praticamente definido: virar quebradeira de coco babaçu.

O Globo Rural registrou o nascimento de Laisa Aparecida de Sousa, 15 anos atrás. Ela é filha da quebradeira de coco Maria das Dores, a primeira depois de quatro bebês mortos no parto. Na época, Maria já desejava um outro futuro para Laisa.

E foi só pela reportagem que a garota conheceu a casa em que os pais moravam, antes de se mudarem do campo para a cidade, em Imperatriz. Na época, dormiam em rede e, às vezes não tinham o que comer.

"Eu sei que toda dor é ruim, mas a da fome é pior", diz Maria das Dores. “[A vida] melhorou e muito" , afirma José de Ribamar de Sousa, pai de Laisa.

Maria das Dores trocou o machado e o macete pela tesoura e as agulhas. O coco, pelo tecido. Virou costureira. Laisa está aprendendo o ofício com a mãe. Nunca quebrou coco, nem teve curiosidade.

"Eu acho que a história do povo de antigamente era muito triste. Era tipo trabalho escravo. Trabalhava para se sustentar."

Um trabalho quase escravo para Laisa, a liberdade de uma vida sem patrão para Joana. O certo é que a quebra do coco é muito mais do que um meio de vida para a maioria das quebradeiras.

Veja a reportagem completa no vídeo.


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